4 de novembro de 2020

Carta para a minha avó

"[...] Mas quem sofre sempre tem que procurar, pelo menos vir achar, razão para viver. Ver na vida algum motivo pra sonhar, ter um sonho todo azul, azul da cor do mar!" 💓


Oi, vó!

Tenho sentido uma angústia, um aperto no peito. Um estranhamento com a sua ausência que ainda não passou, de perder a referência, sabe? De não me reconhecer, perder a felicidade e o prazer nas coisas simples.

Eu queria te contar tanta coisa… Nesse ano tão louco, quatro meses parecem um ano todo. Todos os dias, eu acordo e vou dormir com meu pensamento sempre na senhora e como, pensando agora, foi tudo tão intenso e tão doloroso (em todos os sentidos) nos nossos últimos meses juntas.

Que ano, vó! No momento em que mais precisávamos estar juntos, tivemos que nos separar. Faltou força, faltou perspectiva, faltou calma. Sobrou medo. 2020 tirou meu chão. Me levou a senhora, mas sei que o que a gente tinha é só nosso e ninguém nunca vai entender.

Eu ainda não perdi a vontade de chorar toda vez que eu tenho que abrir o seu armário, que eu sonho com o seu abraço ou quando lembro de qualquer situação do dia a dia por aqui. Pela falta que sempre me fará. Pelo vazio que ficou no peito e na casa, impossíveis de serem preenchidos.

Nessas horas, eu recorro aos momentos que ficaram na memória. Das suas gargalhadas com vontade, de todas as vezes que descobrimos os doces que a senhora escondia na gaveta da cômoda, quando falava “tóxico” errado e eu achava graça, de quando já não podia mais comer comida normalmente, e pedia ovo frito porque estava com muita vontade. E, de novo, olhos cheios de lágrimas.

Paro, respiro. E posso te dizer que, embora eu sinta muita dor com a sua partida, eu aprendi muito com ela. E, então, muita coisa mudou por aqui. Hoje, eu queria te contar as coisas, vó. Só queria te dizer te amo, de novo. Mas, quem não morre, sempre é. E, vó, a senhora é, foi e sempre vai ser, vai estar.

Te amo!


Com amor,
Mariana 

17 de maio de 2020

Eu perdi a inspiação

“[...]Quando tudo ainda estava inteiro, no instante em que desmoronou. Palavras duras em voz de veludo. E tudo muda, adeus velho mundo! Há um segundo, tudo estava em paz...”
[A música aqui]
 
Escrevi e apaguei várias vezes. Fiquei olhando para a tela do computador com a página do word em branco e o cursor piscando sem nada sair por escrito. Escrevi e apaguei. Várias vezes.

Esse período só prova que as coisas, muitas vezes, não estão no nosso controle. Muitas vezes, não. Não estão. E, controladora como sou, não sei lidar.

Achei que nunca teria que viver com mais ansiedade do que já era normal desde pequena. Coração acelerado no domingo à noite. Angústia na segunda de manhã. Desânimo na quarta. Exaustão na sexta à noite. O ciclo se repete.

Eu perdi a inspiração. Eu, que só sei dizer certas coisas por escrito. Parei de dizer. A escrita é no caderno, agora, das tarefas do dia a dia do trabalho, que não para, só aumenta (ainda bem! Disso a gente não pode reclamar).

Este ano era o ano do segundo livro. Talvez. Estava no planejamento(!). Novas ideias e novas histórias. Ficção e realidade. Mas, a realidade falou mais alto. A vida real e adulta, regada a muita responsabilidade e muitas incertezas.

Escrevi e apaguei várias vezes, querendo falar sobre a montanha-russa que tem sido esses dias (62, para ser mais exata). Sobre parecer que está sempre na hora da descida dessa montanha-russa. Adrenalina no auge. Frio na barriga. Medo. E eu sempre odiei esses brinquedos nos parques de diversão.
 
Sobre saber do privilégio, ser privilegiada e sentir vergonha por se sentir ansiosa. Sobre perder a inspiração. Sobre seguir no automático sem previsão de acabar. Isso tudo é sobre se perder e sobre procurar o ponto de equilíbrio, de novo.

Quase apaguei mais uma vez.

3 de fevereiro de 2020

Oi, está me ouvindo?

“[...] And I'm telling you. These feelings won't go away. They've been knockin' me sideways, they've been knockin' me out lately. Whenever you come around me... These feelings won't go away!”
[A música queridinha dos últimos dias. Aqui.]



Você fala sobre o que está sentindo?
Tem dia que é como se fosse quando a gente prende o dedo na porta. Dói. Pulsa. Lateja. Fica roxo. E gritar parece que ajuda a aliviar.

Tem dia que parece um turbilhão, girando, girando, girando, com velocidade, com barulho.


Tem dia que é como ficar deitado na cama e cobrir até o rosto com o edredon. Silêncio.

Assim é falar o que sente. Ajuda a aliviar.
Talvez eu tenha demorado muito para aprender, entender, perceber. Talvez, eu nem tenha aprendido.

Mas, hoje, se eu pudesse dar um conselho, seria: fale o que você sente. Fale. Sem medo de interpretações erradas ou vergonha. Fale. É libertador.


Tudo bem ser silêncio, às vezes, também.


E, nem sempre precisa falar. Pode escrever. Tem coisa que só sai de mim por escrito. E, ok!


Eu escrevo. O tempo todo. Fico rabiscando, escrevendo palavras soltas... Às vezes, sem sentido. Às vezes é sentido. Eu escuto muito. Ouço as pessoas falarem e já imagino aquilo como uma história. Já penso em um livro. Eu escuto e me interesso até bem mais do que pela realidade que eu ouço ali.


Eu falo pouco – falei menos, hoje falo mais. Eu escrevo muito. Eu escuto demais. Isso ainda me incomoda e eu falo sobre isso. Mas, eu entendo: as pessoas não são o que querem ser. São como conseguem.

Acidente com vítima leve

" Eu vou andando pelo mundo como posso E me refaço em cada passo dado Eu faço o que devo, e acho Não me encaixo em nada Não me encaixo,...