4 de outubro de 2019

Antecipando angústias

"Quando não tinha nada eu quis. Quando tudo era ausência, esperei. Quando tive frio, tremi. Quando tive coragem, liguei. Quando chegou carta, abri. Quando ouvi Salif Keita, dancei. Quando o olho brilhou, entendi. Quando criei asas, voei!"
[Trilha sonora das férias...]

Eu sei. E eu temia que isso acontecesse, mesmo. Hoje, eu sou aquela pessoa que quando me via, já abraçava e falava “nossa, como cresceu. Como o tempo voa, né?”.

Eu sou aquela pessoa que acha que o tempo está indo rápido demais. Que tudo é muito breve, evapora em um segundo.

Espera um pouco. Eu ainda estou correndo, ainda tenho muita coisa para fazer. Já é outubro. Já já é Natal de novo – inclusive, já tem panetone desde setembro no supermercado.
Espera. Fica.

Eu quero ver tudo. Sentar e olhar tudo com calma. Olhar as luzes que já vão começar a enfeitar a cidade e deixa tudo mais bonito. Aliás, minha época favorita.

Fico antecipando angústias. Sofro (muito) com meus inconformismos. Meu lado jornalista precisa ter todas as informações. Meu lado Mariana sofre de ansiedade crônica. E de saudades absurdas. E de dúvidas cruéis demais para permanecerem comigo.

Não quero ir, mas quero estar em todos os lugares. Quero que o tempo passe, mas quero todos os dias aqui, para mim. Fico antecipando angústias e sofro muito com meus inconformismos. E isso só acalma (ou diminui, nunca passa), quando coloco no papel. Ou quando leio, e vejo nas histórias todos os detalhes, vejo o tempo passar.

Eu sinto muito. Muito, mesmo. Sinto o tempo passar. Sinto pela correria. Sinto pela angústia que sempre se antecipa para mim. Sinto pelo meu estômago sentir tanto pela minha ansiedade crônica causada pelos meus inconformismos.

Quero dias mais longos, olhar para o relógio e ainda ser 9h. Saber que tudo passa, mas passa devagar. Deixa eu olhar. Deixa eu respirar. E saber que eu vou ainda olhar e dizer “como você cresceu. Como o tempo voou, né?”.

Ansiedade crônica não vai embora. Ela permanece. Os inconformismos, também. Mas, às vezes descansam.

E depois, mudam. Que silêncio!

1 de julho de 2019

Ponto de partida

“[...] E se eu falasse nessas coisas que vejo em você. Me atravessam num segundo sem eu entender. E tudo que me faz ver, e tudo que me faz ter.”
[A trilha sonora do mês, no link]

Fazia muito tempo. Que a gente não se falava, que a gente não se ouvia. O tempo foi sempre uma questão.

Com o tempo, eu aprendi que ninguém deixa o outro de repente: são os detalhes que afastam, diariamente. E aprendi, também, a não gastar energia com o que não é recíproco – parar com a mania de achar que qualquer coisa significa muita coisa. Às vezes, não quer dizer nada. Nada mesmo!

Voltamos, então, ao ponto de partida. E eu te vi.

Te olhei de um jeito que te vi (e enxerguei). Te ouvi de um jeito que te escutei (e entendi). O tempo foi uma questão.

Resta saber, então, o que faremos daqui para frente, mesmo que o tempo ainda seja a (nossa) questão. Nunca os dois no mesmo passo. Sempre os dois na contramão.

E, se aqui me permite um conselho, aqui vai: o melhor investimento é nos afetos.

No carinho que ficou, na incerteza do (ainda) desconhecido, na curiosidade da espera e na ansiedade dos (re)encontros.

Mais uma vez, o tempo.

11 de fevereiro de 2019

Já sentiu saudades hoje?

" 'Cause it was almost love, it was almost love. It was almost love, it was almost love."
[Da trilha sonora recente, no repeat. O link está aqui]

O dia já começou todo estranho. E eu, toda atrapalhada. Bati o cotovelo no batente da porta. Derramei leite com café na blusa clara antes de sair. Nem deu tempo de tomar café. Saí. Esqueci meu celular. Tive que voltar. Bati o cotovelo de novo (vai ficar roxo).

Ai.

Fisgadas no peito. Do lado esquerdo. Angústia que não passa. A cabeça que não está acompanhando o corpo. O ônibus que não passa. A música no iPod. O trânsito.

Espero o computador ligar. Derrubo a garrafa de água em cima da mesa. Caramba, o notebook. Molhou o caderno. O que não falta ali é papel.

Fisgadas no peito. Do lado esquerdo. Angústia que não passa. A cabeça que não está acompanhando o corpo. O computador liga. Mais de 50 e-mails na caixa de entrada. A reunião começa em 20 minutos.

Respondo os mais urgentes. Mando imprimir o que preciso levar. A impressora não funciona. Vou para o elevador. Esqueço o crachá. Volto para buscar. A mesa ainda não secou.

O fôlego está faltando. Correria para não se atrasar. A reunião atrasa. Sento no sofá da recepção para aguardar. Pego o celular. Abro o Instagram. Foto atrás de foto.

Frases motivacionais, #tbts, fotos de viagens, fotos de comida, de academia. Vou rolando o feed. Foto das últimas horas que não abri minhas redes sociais. Tinha uma foto ali. Uns 7 minutos parada observando aquela foto. Pronto, a reunião ia começar.

A cabeça que ainda não está acompanhando o corpo. Fisgadas no peito. Do lado esquerdo. Tomo água. Falo que a impressora não funcionou. Tenho que continuar no discurso, mesmo. A reunião acabou.

Dá tempo de parar para um café da manhã que não deu tempo mais cedo. Faço o pedido. Pego o celular. Olho os e-mails – ainda tem uns 15 não respondidos.

Volto para a minha mesa, para o meu computador, para os e-mails não lidos. Respostas. Tudo tem que caber em 8h48 de trabalho. Tem que dar tempo da reunião. Das entregas. Do almoço. Da pausa de 15 minutos para ser improdutiva.

Instagram de novo. Rolo o feed e a foto aparece lá. As fisgadas no peito do lado esquerdo diminuem. A cabeça volta a raciocinar. Eu entendo, então, o que é. Saudades, sabe?

É que tem dia que ela vem e insiste em ficar. Insiste em fazer aumentar essas fisgadas no peito. Do lado esquerdo. Insiste em fazer faltar ar. Insiste em deixar a cabeça confusa e... não saber como dizer.

Mas, eu entendi. Desligo o computador. Chamo o elevador. Espero o ônibus. Música no iPod. Tem aquela música. Menos angústia. As fisgadas no peito, do lado esquerdo, diminuíram. Pego o celular. Disco o número. Tem todo o caminho de volta pela frente.

Ainda, assim, o cotovelo vai ficar roxo.

Está ouvindo minha saudade?

Acidente com vítima leve

" Eu vou andando pelo mundo como posso E me refaço em cada passo dado Eu faço o que devo, e acho Não me encaixo em nada Não me encaixo,...